Terapia de casal: Parte 2

Em terapia de casal as crenças de cada um tornam-se visíveis, não só através do conteúdo do que me dizem, mas também através da forma que a dinâmica do casal assume. Por exemplo, num casal em que um dos elementos está visivelmente mais focado na relação – no nós – e menos em si – propõe passar mais tempo em casal, é-lhe imprescindível ter projectos a dois, etc. Enquanto o outro elemento está mais focado em si – propõe mais tempo individual, fala mais sobre si e das coisas de que gosta, e até mais sobre o outro enquanto indivíduo separado de si, apreciando-lhe a individualidade.

Este tipo de dinâmicas pode causar conflitos: quando sinto que o outro não age de acordo com o mesmo modelo que eu, saltam muitas vezes os medos e as inseguranças: se não está tão centrado em nós é porque já não gosta tanto de mim, nada disto lhe faz mais sentido, etc

Alguns casais dizem-me, com alguma estranheza, que conseguem funcionar melhor em terapia, mesmo discutindo os mesmos assuntos, do que quando estão sozinhos. Falam-me da importância de um árbitro, que faz a mediação entre eles. Julgo que terão razão, e que essa será uma das razões do sucesso da terapia: aprender que sabem fazer diferente, e que o podem fazer sem a presença de um terceiro elemento

No entanto, não considero a minha presença como (apenas) a de um árbitro, que impõe regras e faltas. Perguntei-me muitas vezes o que fazia com que os casais conseguissem discutir, na minha presença, de outra forma. E julgo que uma das razões será o facto de eu permanecer sempre disponível para conhecê-los, e também cada um deles. Ou seja, tendo a adoptar uma postura de curiosidade e compreensão em relação a estas três entidades – os dois eus e o nós – tendo em atenção quais são os modelos relacionais que terão como base, quais as suas crenças, o que consideram ser mais importante para si e para a relação. Juntos, os casais descobrem que diferentes perspectivas não implicam que o outro não nos valide ou não goste de nós, mas simplesmente que isso resulta de uma forma diferente de olhar para a relação, naquele momento, o que depende da sua história individual, do que se passa a outros níveis, do que viveu, etc. E claro que podem também descobrir que a perspectiva do outro não se coaduna, em nada, com a sua própria perspectiva sobre o que querem para si e para a sua relação.

A minha postura permite a cada um dos elementos perceber que é possível que as duas perspectivas coexistam. Simplesmente porque de facto entendo que as duas podem coexistir, sem que uma invalide a outra.

Como é que eu faço isso?

1)      Postura de abertura e curiosidade

2)      Espaço para ouvir o outro sem julgamentos

3)      Fazer o exercício de colocar-se no lugar do outro – o que estou a sentir, etc

4)      Colocar questões e fazer menos afirmações

5)      Entender como é que a perspectiva do outro me faz sentir

Para os casais torna-se, é claro, fazer este tipo de exercício, sobretudo em alturas de conflito, quando os medos e as inseguranças vêm ao de cima. Ao longo do tempo fui também entendendo que, para haver este movimento de abertura e compreensão de parte a parte, que implica descentrarmo-nos e entendermos que as nossas reacções imediatas são grande parte das vezes causadas por inseguranças nossas, seria importante:

1)      Termos presente o amor que temos pelo outro e que ele tem por nós. Centramo-nos com frequência no que corre menos bem na nossa relação, e esquecemo-nos do que vivemos de positivo e dos momentos em que nos sentimos bem;

2)      Promover o conhecimento mútuo: estimule a sua curiosidade sobre a pessoa que tem ao lado. Pergunte-lhe sobre a sua vida, sobre os momentos mais importantes, sobre os seus sonhos, projectos, ambições, princípios;

3)      Apontar e comemorar os momentos bonitos da vossa história;

4)      Relembrar o que o/a apaixonou pelo outro

5)      Perder-se em detalhes: escreva bilhetes, mensagens, dê abraços inesperados, pergunte ao outro como está. O essencial pode estar contido num detalhe.

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