Saúde mental no feminino

Convidaram-me um dia a escrever um parágrafo sobre os desafios actuais à saúde mental das mulheres da minha geração. Julgo que estes principais desafios se prendem sobretudo com a necessidade de manterem uma posição de igualdade em relação aos homens, nos contextos profissional e também pessoal (amigos, família, casal), mas de, simultaneamente, não quererem ter de provar que são super-mulheres. A luta, iniciada por gerações anteriores, para que fizessem parte da vida social activa e fossem consideradas profissionalmente foi sem dúvida importantíssima. Mas essa luta, juntamente com a correria dos tempos actuais, parece contrastar com uma necessidade, cada vez mais presente, de qualquer coisa essencial que sentimos faltar.

Além disso, a mudança dos estereótipos associados aos papéis do feminino e do masculino não pára, e o facto de estarmos num período de transição causará ansiedade acrescida. Os guiões não são os mesmos de antigamente, mas ainda não existem novos. As mensagens, dos homens e das mulheres, são ambíguas: eles não nos querem frágeis mas também têm dificuldade em lidar com a nossa independência e sucesso; nós exigimos que eles não sejam duros, que expressem as suas emoções, mas que nos protejam e não sejam frágeis. Os sonhos já não são os mesmos mas também não estão definidos novos. O que queremos como argumento do filme da nossa vida está, agora ainda mais, indefinido.

São tempos de profundas mudanças (desengane-se quem pense que já está tudo feito, as cabeças, nossas e deles, demoram décadas a mudar). É um período de indefinição, caracteristicamente pontuado pela ansiedade e insegurança que todas as mudanças provocam. Mas também, pelas mesmas razões, constitui um período fantástico de transformação. E nós somos os protagonistas da história.

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